Centenário de Nelson Rodrigues
23 DE agosto DE 2012

Se vivo fosse, o dramaturgo, jornalista e escritor recifense Nelson Rodrigues completaria cem anos hoje.
Autor de 17 peças teatrais, escreveu romances, contos e crônicas. Várias de suas obras foram adaptadas para a televisão, como Engraçadinha... Seus amores e seus pecados e A Vida Como Ela É, e para o cinema, como Boca de ouro e Vestido de noiva.
Polêmico, muitos o consideravam maldito, mas sempre genial. Há muitas críticas à sua obra, por vezes taxada de imoral e pornográfica. Não ligava, dizia: a unanimidade é burra.
Considerado o dramaturgo mais influente do Brasil, faleceu no Rio de Janeiro em 1980, aos 68 anos, de complicações cardíacas e respiratórias.
Relembre Nelson Rodrigues com algumas de suas frases:
Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico (desde menino).
Deus está nas coincidências.
Invejo a burrice, porque é eterna.
Muitas vezes é a falta de caráter que decide uma partida. Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos...
Não existe família sem adúltera.
Não se apresse em perdoar. A misericórdia também corrompe.
Nem todas as mulheres gostam de apanhar, só as normais. As neuróticas reagem.
O amor entre marido e mulher é uma grossa bandalheira. É abjeto que um homem deseje a mãe de seus próprios filhos.
O brasileiro, quando não é canalha na véspera, é canalha no dia seguinte.
O dinheiro compra até o amor verdadeiro.
O pudor é a mais afrodisíaca das virtudes.
Qualquer indivíduo é mais importante do que a Via Láctea.
Só o cinismo redime um casamento. É preciso muito cinismo para que um casal chegue às bodas de prata.
Só o inimigo não trai nunca.
Todo ginecologista devia ser casto. O ginecologista devia andar com batina, sandálias e coroinha na cabeça. Como um São Francisco de Assis, com luva de borracha e um passarinho em cada ombro.
A plateia só é respeitosa quando não está a entender nada.
A liberdade é mais importante do que o pão.
Se todos conhecessem a intimidade sexual uns dos outros, ninguém cumprimentaria ninguém.
Só o rosto é indecente. Do pescoço para baixo, podia-se andar nu.
A prostituta só enlouquece excepcionalmente. A mulher honesta, sim, é que, devorada pelos próprios escrúpulos, está sempre no limite, na implacável fronteira.
As grandes convivências estão a um milímetro do tédio.
O jovem tem todos os defeitos do adulto e mais um: o da inexperiência.
Convém não facilitar com os bons, convém não provocar os puros. Há no ser humano, e ainda nos melhores, uma série de ferocidades adormecidas. O importante é não acordá-las.
Sem paixão não dá nem pra chupar um picolé.
Todo amor é eterno. Se não é eterno, não era amor.
Os homens mentiriam menos se as mulheres fizessem menos perguntas.
As vaias são os aplausos dos desanimados.
Só acredito nas pessoas que ainda se ruborizam.
Amar é dar razão a quem não tem.
A grande vaia é mil vezes mais forte, mais poderosa, mais nobre do que a grande apoteose. Os admiradores corrompem.
O brasileiro não está preparado para ser o maior do mundo em coisa nenhuma. Ser o maior do mundo em qualquer coisa, mesmo em cuspe à distância, implica uma grave, pesada e sufocante responsabilidade.
O artista tem que ser gênio para alguns e imbecil para outros. Se puder ser imbecil para todos, melhor ainda.
Toda a unanimidade é burra.
Perfeição é coisa de menininha, tocadora de piano.
Ser bonita não interessa. Seja interessante!
O boteco é ressoante como uma concha marinha. Todas as vozes brasileiras passam por ele.
O brasileiro é um feriado.
Se os fatos são contra mim, pior para os fatos.
Amar é ser fiel a quem nos trai.
O 'homem de bem' é um cadáver mal informado. Não sabe que morreu.
O homem só é feliz pelo supérfluo. No comunismo, só se tem o essencial. Que coisa abominável e ridícula!
Existem situações em que até os idiotas perdem a modéstia.
Tudo passa, menos a adúltera. Nos botecos e nos velórios, na esquina e nas farmácias, há sempre alguém falando nas senhoras que traem. O amor bem-sucedido não interessa a ninguém.
Qualquer amor há de sofrer uma perseguição assassina. Somos impotentes do sentimento e não perdoamos o amor alheio. Por isso, não deixe ninguém saber que você ama.
Não reparem que eu misture os tratamentos de "tu" e "você". Não acredito em brasileiro sem erro de concordância.
O amoroso é sincero até quando mente.
Confira abaixo algumas das obras de Nelson Rodrigues disponíveis na BSP.

Asfalto selvagem
A saga de Engraçadinha - seus amores e seus pecados, dos doze aos dezoito e depois dos trinta - foi editada aqui, pela primeira vez, num único volume e em sua edição definitiva. Aqui está, completa, a história que arrebatou milhares de leitores ao ser publicada, entre 1959 e 1960, no jornal Última Hora. Asfalto selvagem é a história de uma mulher - Engraçadinha - que catalisa paixões. A primeira parte se passa em Vitória (ES), em 1940; a segunda, no Rio de 1959.

Vestido de noiva
A peça do teatro brasileiro conta a história de Alaíde, moça atropelada por um automóvel que, enquanto é operada no hospital, relembra o conflito com a irmã, Lúcia, de quem tomou o namorado, Pedro, e imagina seu encontro com Madame Clessi, cafetina assassinada pelo namorado de 17 anos. Influenciada pelas ideias de Freud, a história é contada em três planos - o da realidade, em que ela é operada e seu acidente é comentado por jornalistas; o da alucinação, em que surge Madame Clessi, que Alaíde conheceu lendo o seu diário; e o da memória, em que ela lembra o triângulo amoroso com Lúcia e Pedro.

O homem proibido
Neste livro, depois do suicídio da mãe e do abandono do pai, Joyce ganha uma nova casa e uma nova irmã. Mas o aparecimento de um charmoso médico estremece o relacionamento entre as duas moças. Essa obra foi escrita originalmente sob o pseudônimo de Suzana Flag, em 1951.

A cabra vadia - Novas confissões
Reunião, numa nova edição, das 58 crônicas consideradas como mais pessoais de Nelson Rodrigues, publicadas nos anos sessenta e setenta do século passado, que versam acontecimentos e personagens que, com o autor, compartilharam a época de confronto, político e ideológico, no final dos anos 1960 e mesmo nos 1970.

A vida como ela é... (disponível também no formato audiolivro)
Nelson Rodrigues já era Nelson Rodrigues quando, em 1961, organizou esta antologia, que reunia em livro pela primeira vez parte da série A vida como ela é. Samuel Wainer, dono do jornal Última hora, queria uma coluna em que o autor de Vestido de noiva, Anjo negro e Álbum de família, retratasse, com um toque ficcional, uma história da vida real. Combinação perfeita para um dramaturgo sofisticado que, desde sempre, respirava jornal.
A vida como ela é estreou em 1950 e em pouco tempo era um sucesso popular. Como o melhor jornalismo, falava direto ao público; como a literatura mais sofisticada, fazia tremer suas convicções. Por seu alcance e perenidade, teve várias encenações em mais de 50 anos. Foi programa de rádio nos anos 1960, narrado por Procópio Ferreira, e disco, lançado pela Odeon. Foi transformada em fotonovela. Deu origem a um dos grandes sucessos do cinema brasileiro, A dama do lotação. Na década de 90, foi grande sucesso no teatro, em encenação premiada de Luiz Arthur Nunes.
Acesse o catálogo para pesquisar outras obras e verificar a disponibilidade para empréstimo.
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